9.19.2006

A chegada as Rocky Mountains (Canada)

Dia 50
Km 3486


Ao viajar de bicicleta tudo e imprevisível, nunca se sabe o que esta para acontecer ao virar uma curva. Uma paisagem lindissima, um furo, um encontro inesperado..
O que me aconteceu no dia em que sai de Smithers, foi de facto, inesperado. Tinha saído tarde, eram cerca de 11 horas da manha. O dia estava lindo, com nuvens altas, sol e uma pequena brisa de noroeste. Tinha acabado de falar com os meus pais, e isso, encheu-me o dia de uma energia radiante.
A Yellowhead Highway que liga a costa do pacifico as província do interior do Canada, atravessava vastas zonas florestadas. Junto a estrada haviam alguns ranchos com pastagens vacas e cavalos, os primeiros que via desde que a viagem começou. Passei por 2 ou 3 aldeias de Mennonites, onde rapazes e raparigas da escola brincavam em lugares separados, e vestidos com as suas roupas tradicionais. Foi uma visão bonita, como, se por momentos ,tivesse entrado num passado longinquo. Existem apenas cerca de 1 milhão e meio de Mennonites espalhados pelo mundo. Uma religião adepta a não-violência, não-resistência e pacifismo.

A paizagem mudou desde que deixei a Cassiar, a presença humana e mais evidente.
Tinha feito cerca de 40 kms quando uma carrinha me ultrapassa e para a minha frente. Dela saiu um homem alto e forte, em calções e camisa estampada, e com um largo sorriso. Por momentos pensei que fosse o empregado do parque de campismo municipal de Smithers, que ao descobrir que sai sem pagar a ultima noite veio a minha procura. Já tinha uma desculpa formulada, que, de facto, era a verdade: Tinha-o procurado no dia anterior e essa manha também, com a intenção de lhe pagar, como nao o encontrei deixei-lhe uma mensagem na porta da sua casa:" I've looked for you everywhere. I'm on the Yellowhead'n east. The portuguese cyclist."

Afinal o homem alto e forte era o Paul, um dentista de huston, a próxima aldeia a cerca de 30 kms dali. Depois de um pouco de conversa, convidou-me para passar a noite em sua casa, deu-me o seu cartão, com um numero para o chamar quando chega-se a Huston. 3 horas depois estava no armazém da sua casa, que mais parecia uma oficina de bicicletas, a lavar a minha fiel companheira de viagem: a Kona fire mountain.).
O Paul soltou uma enorme gargalhada enquanto me limpava a corrente, quando lhe disse que andava a usar azeite. Expliquei-lhe que o azeite, um pouco a semelhança do arroz na Índia, ou o coco nas Caraíbas, e um ingrediente multi-funções bastante usado no Meriterrâneo. Essa noite a mesa de jantar com a Gheri, a sua esposa, a Alli, a Dani e a Jo, as suas 3 filhas, falamos com entusiasmo acerca de zonas que eu deveria visitar, e em viagens em bicicleta em geral, um tipo de ferias que toda a família era accionada. Pela altura da sobremesa, o Paul divergiu a conversa para a historia do escaravelho...
Outro dos efeitos do aquecimento global, que e tema de conversa, desde jantares de família, ate debates parlamentares. Os escaravelhos atacam apenas os pinheiros alpinos, cortando o fluxo de agua e nutrientes , tornando as folhas vermelhas, e posteriormente causando a sua morte. São necessarias temperaturas de inverno com cerca de -20 graus para matar a lava dos escaravelhos.

Os invernos amenos dos últimos 4/5 anos permitiram taxas de mortalidade de 10% em vez dos normais 80%. Resultado: uma explosão massiva da população de escaravelhos. Nos dias que se seguiram, observei com mais atenção as florestas, realizando que as suas enormes manchas vermelhas, não são parte das cores do outono, como pensava, mas sim, resultado desta epidemia, que afecta principalmente as províncias do Yukon e British Colúmbia, e que ameaça expandir-se a Este das rocky mountains. Algumas das formas de combate do governo, e o corte de florestas, o fogo posto controlado, e a replantação de floresta mista.
O resto da noite passamos a ver mapas da América do norte e a ver qual seria o melhor itinerário que deveria tomar nos Estados Unidos. Todos foram unânimes, incluindo a Jo, a filha mais nova, que com cerca de 10 anos, já viaja com a sua própria bicicleta, que deveria seguir a rota do pacifico por já estar demasiado frio nas rocky mountains americanas, na altura em que la chegar.
Na manha seguinte, a Gheri preparou-me um lanche para levar, e o Paul um pequeno frasco com óleo para a corrente da bicicleta, que garantiu ser mais adequado ao frio das montanhas Canadenses do que azeite.
Despedi-me da família Comparelii, e desta inesperada situação, com a foto da praxe,e segui viagem....
Tinha feito apenas cerca de 10 kms quando conheci a Kathy e o David, os únicos ciclistas que vi nesta etapa de 807 kms, entre Smithers e Jasper. Sempre pela Hellowhead Highway, atravessando a British Colúmbia de Oeste para Este. A Kathy e o David são de Seattle, deixaram os filhos com alguém e decidiram tirar um mês de ferias a andar de bicicleta pela British Colúmbia, e como andavam a um speed maior do que o meu (cerca de 150 kms dia!)passamos apenas esse dia juntos. Mal eles sabiam que o destino ia mudar os seus planos de viagem.

Os 2 dias que se seguiram ate a cidade de Prince George, tive um vento forte a favor, aproveitei para somar kms. 127 kms e 146 kms, montando acampamento,as 5h e 5.30h, respectivamente.
Prince George e uma grande cidade, moderna e um pouco industrial, a planta nuclear a saída da cidade, espalhava os seus vapores um pouco por todo o lado. Decidi não ficar e seguir viagem. Mas antes fui comprar um saco-cama, deixando o velho com um casal de nativos bêbados que estavam sentados num banco do jardim da biblioteca municipal. O alcoolismo e um problema grave das comunidades nativas. Tenho-o observado desde Inuvik. Presos entre duas sociedades, nas quais não se identificam por completo. Vivem com a nostalgia do passado, e não são aceites por completo na sociedade moderna Canadense, resultando em problemas sociais como o alcoolismo, drogas e desemprego.
O meu novo saco cama e bem mais volumoso do que o outro e não cabe nas malas. Tenho que o transportar junto a tenda em cima do suporte. Mas apenas com pouco mais de um kilo e temperatura conforto de -7 graus, e exactamente o que necessito para as Rocky mountains. Valeu cada um dos 79 dólares que me custou, logo no segundo dia quando as temperaturas no acampamento junto ao rio Holmes baixaram aos -2.
Nessa tarde antes de começar a procurar um local para acampar, um outro carro ultrapassa-me e para um pouco mais adiante. Teria sido uma grande supresa, quando vi que eram a Cathy e o David, se não tivesse dado uma olhadela no meu site na pequena aldeia de Mc Bride no dia anterior, e tivesse visto a mensagem que me deixaram no meu livro de visitas.
A Cathy teve um acidente sozinha, num 'downhill', um problema inexplicavel com a corrente fez com que voasse pelo ar aterrando com o capacete que se partiu em 3 lados e impediu fracturas graves. Depois de uma visita ao hospital de Prince George, dicidiram alugar um carro e arrumar as biclas no porta bagagens.
O David fez questão em me oferecer o seu capacete.
O chapéu 'a fidel passou, de momento, para as malas, e de facto ate me sinto melhor a viajar com capacete.
Nesta ultima etapa de 807 kms pelaYellowhead highway, atravessei toda a British Colúmbia de Oeste para Este, subindo parte das rocky mountains pelo seu passe mais baixo, o Hellowhead passe (1159 metros), e cheguei ontem a esta pequena cidade de montanha ja na província de Alberta.
Estou no Parque nacional de Jasper e Bannf, e por qualquer lado que me vire, tenho montanhas com cúmes de 3000 metros, e acima.
A jóia na coroa das montanhas canadense, as rocky mountains, essa cadeia de montanhas gigantesca que se estende desde do norte do canada quase ate ao sul dos estados unidos..

Estou a espera da Danina,uma amiga australiana que vive perto de vancouver e que chega a Jasper amanha pela manha. Uma amiga de longa data, cujas nossas vidas se tem cruzado ao longo dos anos. Primeiro em Portugal, numas ferias de Verão quando a conheci. Anos depois em Londres, quando a reencontrei na brixton academy numa festa de hard house music awards que ela gostava de frequentar. O ano passado em Whistler, aqui no canada, quando tive as minhas primeiras lições de snowboarding numas curtas ferias de inverno. E de novo amanha, aqui no coração das rocky mountains.
Daqui vou seguir para sul sempre em cima das 'rockies' ate onde o clima o permitir....
Primeiro percorrendo a " Icefields Parkway road" ate Bannf, e depois por estradas ainda não definidas ate Yellowstone, já nos Estados Unidos.
Ai, abandonarei as montanhas (altas!), e seguirei para a costa do pacifico, em busca de temperaturas mais amenas, mas onde provavelmente irei encontrar muita chuva...
'E a forca dos elementos, sempre presente, na construção do itinerário desta aventura rumo a terra do fogo....

Nuno Brilhante Pedrosa
em Jasper, Alberta, Canada.

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